Acredita-se que João Ramalho tenha sido o introdutor em Cubatão dos festejos carnavalescos, quase cinco séculos atrás. Ele teria trazido para Cubatão o entrudo português, difundindo assim entre os indígenas essa festa antecessora do Carnaval.

"Porém, é no século XIX que ele conquista maior expressividade para a população local, sendo celebrado com limões-de-cheiro, lança-perfumes, confetes, serpentinas e luxuosas fantasias dos sitiantes da região e das filhas ou netas dos barões da banana e da mexerica que freqüentavam as festas que aconteciam na avenida da praia do Gonzaga, em Santos", como citam em seu livro Cubatão, a Rainha das Serras, os pesquisadores César Cunha Ferreira e Marildo Passerani.

Os primeiros clubes esportivos cubatenses, além do futebol, organizavam bailes para reunir a juventude, a exemplo do Esporte Clube e da Sociedade de Socorros Mútuos de Cubatão, que reuniam a comunidade, no Centro. Em seu livro Cubatão: história de uma cidade industrial, a pesquisadora Celma de Souza Pinto cita que "a Banda do Corpo de Bombeiros de Santos era chamada para animar os bailes da Sociedade, e muitos lembram que, quando a banda chegava na estação, já descia tocando e continuava até o local da festa, acompanhada pelos moradores".

Ela continua: "Mas os bailes não tiveram início com os clubes. Godofredo Schmidt relata que, por volta de 1911, nas casas mais abastadas havia um fonógrafo", e era ao som de seus discos que se dançava, quando não havia sanfona. "Em certa ocasião, em que a dona da casa só tinha o disco do Barão do Rio Branco sobre a questão dos limites com a Bolívia, a vontade de dançar era tanta que dançou-se ao som do discurso mesmo".

Os bailes mais concorridos eram no Comercial Santista, da Fabril, e o pessoal ia a pé até lá para participar. "Da Fabril também saíram os grupos carnavalescos de maior sucesso da região, o Bloco dos Cabeções e o Rancho Carnavalesco Coluna da Sorte, ambos da década de 30".

Segundo a pesquisadora, o Bloco dos Cabeções reunia pessoas fantasiadas com enormes cabeças feitas de papel e moldadas em barro, e que após rápida passagem por Cubatão, se apresentavam em algumas ruas do centro de Santos, onde então desfilavam os blocos e os corsos carnavalescos.

Raul José Sant'Ana Leite, um dos organizadores dos Cabeções, relatou que "O fino do carnaval em Santos era no centro da cidade (Praça Rui Barbosa, Rua João Pessoa, Rua Senador Feijó, Praça José Bonifácio, onde as agremiações carnavalescas desfilavam (ranchos, blocos e outras categorias), arrancando aplausos da multidão que se comprimia nas calçadas e nas sacadas residenciais. As agremiações mais aplaudidas nos desfiles de rua apresentavam-se, posteriormente, nos amplos salões do Teatro Coliseu (esquina da Rua Braz Cubas com a Amador Bueno), onde disputavam o título de campeã".

Ainda informações de Celma: "Em 1937 e 1938, o Bloco dos Cabeções ganhou o título de campeão seguido da Coluna da Sorte, vice-campeã. Essas vitórias tornaram-se um marco para os carnavalescos de Cubatão devido à concorrência com blocos organizados de Santos. Outras vilas, como a Light e a Raiz da Serra, organizavam blocos carnavalescos apenas para animação local".

No Carnaval do então distrito de Cubatão, relatam por sua vez César e Marildo, "destacava-se a Banda da Furiosa, que se apresentava no prédio da Sociedade dos Socorros Mútuos, onde hoje abriga o Posto do GNV, na atual Avenida Nove de Abril, com seus concursos de fantasias".

 

"Os bailes deixaram de ser realizados em seu salão e espalharam-se pela cidade: E.C. Cubatão, Associação Atlética Guimarães, E.C. Jardim Casqueiro, Someca, Clube Atlético Usina de Cubatão e Comercial Santista Futebol Clube". E os dois pesquisadores continuam: "Do Bloco dos Cabeções nasceram as escolas de samba. Foi instituído o concurso para a escolha do Rei Momo e da Rainha do carnaval e, nesse ambiente, as escolas apresentam-se para competirem nos concursos na avenida. As principais escolas são Escola de Samba Nove de Abril, Escola de Samba Independência, Escola de Samba Nações Unidas, Escola de Samba Serrana e Escola de Samba de Vila Paulista. Existe ainda o trio elétrico liderado pela rainha do carnaval e pelo rei Momo".

César e Marildo destacam o Bloco dos Cabeções, surgido na década de 1950 na Vila Fabril da Companhia Santista de Papel: "Introduzido pelo irmão de Raul Santana Leite, ex-presidente da Câmara e do bloco, foi inspirado na esta de Bom Jesus de Pirapora. Os bonecos cabeções lembravam também os imensos bonecos nordestinos da Loura do Cemitério dos Bezerros, em Pernambuco.

"Tradicionalmente, os foliões saíam da Vila Fabril rumo à cidade, cantando: 'Vem ver, minha gente, vem ver o nosso bloco como vai brilhar, vem ver o nosso bloco da folia'".

"Em 1937 e 1938, a pequenina Vila Fabril levou dois ranchos carnavalescos (Cabeções e Coluna da Sorte) a serem campeões do carnaval santista. Nos carnavais do final da década de 1950 e início da de 1960, o Bloco dos Cabeções finalizava seu desfile na Avenida Joaquim Miguel Couto, em frente à casa do prefeito Abel Tenório, onde eram recebidos como reis pela autoridade municipal".

"Em 1961 e 1962 – conclui Celma -, o Bloco dos Cabeções mudou a denominação para Rancho Carnavalesco Cabeçudos da Baixada, se reorganizou e se apresentou novamente em Santos obtendo a preferência do público nos dois anos. No entanto, como Cubatão já se tornara município, ficaram em segundo lugar por serem 'gente de fora'. Mesmo sem o título conseguiram o respeito no carnaval da Baixada Santista. Em 1962, o bloco encerrou definitivamente suas atividades".

Nos anos seguintes, poucas novidades registradas, apenas o crescimento das escolas de samba do município, a continuidade dos bailes nos clubes populares e a realização de "caldeirões de momo" em alguns bairros, além da passagem de trios elétricos. Em 1990, o carnaval teve caráter de divulgação ecológica e da cidade.

Notícia de 25/2/1990 de A Tribuna registra: "Para o diretor de Cultura e Turismo de Cubatão, Rubens Marino, os autores dos sambas-enredo souberam entender o espírito da proposta: 'Compuseram belíssimos sambas-enredo, falando das excelências de Cubatão, destacando a notável luta que toda a nossa comunidade apóia, para preservar a ecologia e reduzir a poluição industrial'."